Um desabafo: a crise e o professor
- Anderson Barbosa Lima
- 27 de ago.
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Por Anderson Barbosa Lima
o texto a seguir é mais um desabafo do que necessariamente um caminho ou a solução de todos os problemas dentro da educação do estado de São Paulo. Como professor que vivencia as trincheiras dessa educação, me ponho a questionar até quando as coisas continuarão a seguir o rumo que estão: tantas transformações, nenhuma segurança e uma cobrança cada vez maior. Hoje, fica claro que alcançar os resultados propostos se tornou mais importante do que os processos de aprendizagem, do que os conhecimentos que geramos para as novas gerações que surgem diante dessa educação.
Vemos, ao longo dos meses que sucederam a ascensão política do atual governo do Estado, essa frenética luta por desconstruir toda a forma de pensar a educação que já vinha sendo proposta até então. A chegada das plataformas digitais nesse processo de plataformização está mudando drasticamente o ensino em todas as cidades do Estado, mas não visando um processo de ensino facilitador. Na verdade, está ficando evidente que as plataformas servem para gerar um número a ser medido e controlado pela SEDUC, e que o importante é que cada diretoria, cada escola, na imagem de sua gestão e pedagógico, faça de tudo para alcançar tal número; caso contrário, sofrerão as consequências disso.
Talvez a recente fala do secretário da Educação do estado de São Paulo, que vem circulando entre os grupos de professores e profissionais da educação, deixe clara a situação: “Tem que subir 0,2% a cada ano, se não subir, tchau.” Essa fala só escancara o que é evidente: ele quer resultado e nada mais. Só que, quando falamos em educação, quando falamos em escolas, não estamos lidando com uma linha de produção, onde o aluno é moldado de acordo com um conjunto de regras e valores que eles pré-determinam. Não. Cada aluno é um ser vivo e, como tal, tem o seu tempo para lidar com as coisas dentro da sala de aula, salas estas que, como sempre, estão cheias e que o professor precisa saber administrar.
No último domingo, dia 24 de agosto de 2025, foi realizada mais uma prova intermediada pela SEDUC e a VUNESP. Essa prova tem como objetivo claro dar espaço aos professores contratados no ano de 2026. Cada um dos professores precisou, pelo segundo ano seguido, fazer essa prova, que custou uma média de 40 reais por pessoa. Muito dinheiro vem sendo movimentado na educação de São Paulo, mas não para ela. As plataformas não são diferentes, muito menos os materiais que chegam para as escolas, como tablets e notebooks. Alguém vem lucrando — e muito — com a educação, enquanto a qualidade do ensino cai, fazendo a pressão sobre os professores aumentar ainda mais.
Mas, para além de todos esses pontos, do ensino noturno sendo desmanchado e do programa de ensino integral sendo imposto, precisamos falar dos professores, eles que estão na linha de frente desse processo educativo, que precisam remontar a forma de pensar a educação e se encaixar devidamente nas propostas do governo. É nítido o cansaço, o esgotamento mental dos professores da rede, que parecem ter que se reinventar dia após dia para poder não só se adaptar a essa educação, mas também tentar instigar os novos alunos, que surgem diariamente com preocupações que passam longe das exigidas dentro da sala de aula. É visível que a educação como nós tanto conhecemos perdeu o interesse para a geração atual de estudantes, que não esconde seu descontentamento em perder horas do seu dia dentro de uma escola. Isso, somado ao desrespeito notório pela linha de comando — muitos dos alunos na escola passam a ter seus primeiros contatos com regras de convívio mais bem estabelecidas —, faz com que o desgaste dos professores só aumente.
Nós estamos doentes e a luta para ocupar esse espaço dentro da educação é pior. Os salários não ajudam, o material de trabalho não nos ajuda; pelo contrário, nossa área parece cada vez mais desvalorizada e desunida. Não há lutas, só a velha esperança de que algo novo aconteça. Os alunos, cada vez mais entregues a rotinas insanas, pouco preocupados com o amanhã e sim com o momento, viciados no agora, no jogo rápido da vida, como se isso fosse tudo que eles pudessem possuir. Jogos de apostas se fazem mais presentes, dinheiro rápido, o sonho de serem influenciadores. Sim, volto a ressaltar: para muitos deles, a educação perdeu o sentido. E o que deve fazer o professor nesse caso, quando o aluno não vê sentido em estar ali, quando ele vai meramente por obrigação e, mesmo assim, o professor precisa cumprir as metas e atingir os valores que o estado tanto cobra?
Como eu disse anteriormente, isso é um desabafo, instigado depois de ver colegas de profissão adoecerem e preferirem qualquer coisa a estarem dentro da educação; ver amigos surtando, com medo, doentes por não estarem conseguindo cativar os alunos às novas necessidades que essa educação em meio à plataformização do estado exige; diretores sendo trocados, professores sendo trocados, cada um tentando fazer o seu jogo para estar de acordo com as vontades da SEDUC, mas a mesma se esqueceu de se preocupar com a vida e a saúde de seus profissionais. Estamos largados, lutando por um resultado frio, um número vazio, pois, no fundo, sabemos que não estamos ensinando como deveríamos. Estamos sobrevivendo, lutando pelo direito de continuarmos sendo professores na rede de São Paulo.




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