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Professor: de Outubro a Abril

Por Anderson Lima*


A Resolução SEDUC – 85, de 31 de outubro de 2024, estabeleceu novas diretrizes para o curricular dos anos iniciais e anos finais do ensino fundamental em São Paulo. Esta medida, pouco percebida pelos professores no ano de sua publicação, causou uma redução de 35% das aulas de ciências humanas, em poucas palavras: aulas como História e Geografia tiveram uma diminuição drástica tanto Fundamental como no Médio; além destas, Filosofia e Sociologia, que já vinham sofrendo na mão de Feder e Tarcísio, mantiveram o baixo nível de inserção na vida dos alunos, sendo uma atuante apenas no primeiro ano do ensino médio, e a outra no segundo ano. Esse movimento deixa claro que a educação representa uma ameaça.


Se pensarmos que a diminuição destas matérias causam um problema à longo prazo aos alunos da rede, que perderam matérias que ampliam seu conhecimento sobre nossa sociedade e seu funcionamento, a importância do senso crítico, do questionar decisões e saber o que são diretos, temos o problema. Além da falta de emprego, que vem acompanhada da diminuição de aulas, para centenas de professores. Se o discurso já no início do ano passado era de “apagão” dos professores, ou seja, se estavam preocupados que a quantidade de professores especializados não dariam conta para suprir as necessidades das escolas, neste ano Feder resolveu o problema enxugando as aulas.


Mas não pense que é apenas a diminuição da carga de humanas. Artes e Educação Física também sofreram suas derrocadas. Além disso, o atual governo também propôs o fechamento de quase 150 turmas do ensino noturno e EJA somente esse ano, e como sabemos isso não só impacta na vida direta do professor, como também do aluno que em muitos casos tem a necessidade de trabalhar já no ensino médio para suprir ou ajudar a suprir suas necessidades financeiras. Se você é um professor, sabe muito bem a importância do ensino noturno.


Imaginem a situação de um professor contratado hoje na rede de São Paulo, conhecido por categoria “O”, que leciona História/Geografia e precisa de pelo menos 22 aulas para manter seu contrato ativo ou abrir um contrato com a rede, isso daria mais ou menos 11 turmas, ou seja, esse professor provavelmente flutuará em pelo menos três ou quatro escolas para poder completar a carga máxima hoje de 36 aulas, além claro, do aumento considerável da concorrência por essas vagas como mostra a imagem abaixo, retirada da SEED durante a atribuição de aulas esse ano:



Há também o relato a seguir de um dos professores da rede:


“Tem sido complicado nessa atribuição! É a primeira vez que não consigo começar o ano com aulas atribuídas e conversando com outros colegas vejo que estes estão na mesma situação. Eu tenho manifestado interesse em aulas, mas está bem claro que existem poucas aulas disponíveis, as aulas de Humanas foram reduzidas em cerca de 35%, sinto que neste ano todos irão se digladiar pelas aulas. No final do ano passado eu tinha esperança de ser reconduzido, mas com a reformulação das aulas chegaram novos professores efetivos na escola em que eu trabalhava, o que fez com que nenhuma aula sobrasse”. 

Esse relato traz bem como a vida do professor se desenha em caos na rede estadual em 2025. Mas não pensem que apenas humanas sofreram, a redução do noturno, tal como o aumento da aula de 45 para 50 minutos impactou também na vida de professores de matemática, por exemplo. 


No último dia 25 de Abril, em frente ao MASP (Museu de Arte de São Paulo) houve uma assembleia organizada pelo Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (APEOESP) para a votação “imediata” de uma greve, é urgente a necessidade de mobilização e luta dos professores da rede, independente a qual categoria você pertence hoje, a luta dos professores é mais do que necessária para a manutenção de uma educação plena na rede, e embora haja unanimidade pela greve, o entendimento do sindicato se fez parecer contrário já que jogaram a urgência do ontem para um “amanhã”, ferindo ainda mais a relação entre professores e sindicato, que nos últimos anos não é das melhores. A greve e a paralisação devem ocorrer, como já mencionado no texto do camarada Lucas Oliveira aqui na Clio Operária em temos a reabertura de classes fechadas (sobretudo no noturno), contratação direta pelo estado de professores e demais profissionais da educação especial, sem terceirização.


É necessário dar voz aos professores da rede. É mais do que crucial a luta pela educação, contra Feder e Tarcísio que atacam a rede de São Paulo como os convém, seja com projetos de privatização das escolas, escolas cívico-militares ou a diminuição das aulas, bem como problemas no pagamento de bônus e na incerteza que esse governo cria na vida do professor que trabalha cada vez mais doente, ansioso por metas falsas, com plataformas digitais que se preocupam mais em reeleição do que no ensino e aprendizado dos alunos. Quando organizei meus pensamentos para poder escrever sobre a situação da educação do estado de São Paulo, um trecho muito marcante de Haiti, música de composição de Caetano Veloso e Gilberto Gil, lançado em 1993 no disco Tropicália 2 me veio à cabeça quando penso na política educacional de Tarcísio e Feder:


“qualquer plano de educação que pareça fácil, que pareça fácil e rápido e vá representar uma ameaça de democratização do ensino de primeiro grau”

Estas palavras me remetem muito uma ideia mercantil de educação empregada pela dupla de São Paulo, que tenta desesperadamente privatizar e educação e limitar o conhecimento de nossos estudantes, entregando materiais digitalizados sem a preparação adequada, mas como diz o próprio Caetano em um de suas músicas brilhantemente interpretada por Gal Costa, “É preciso estar atento e forte”. O professor precisa se opor ao governo opressor. 



*Historiador, pós-graduado em Letras. Professor da rede estadual de São Paulo e editor da Clio Operária. Filiado ao PSOL desde 2019.


Referências:





Gil, Gilberto, Veloso, Caetano “Haiti” música lançada em 1993 no disco Tropicália 2. 


Gil, Gilberto, Veloso, Caetano “Divino, Maravilhoso" lançado em 1969, no disco Gal Costa.



 
 
 

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