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Bitch on Wheels by Sylvia Rivera

Tradução por Moiza*


Sylvia Rivera, junho de 2001.


Trecho de um discurso originalmente proferido no NYC Pride.


Tínhamos conexões com a máfia. Vocês devem lembrar que naquela época todo mundo usava drogas. Todo mundo estava vendendo drogas, e todo mundo estava comprando drogas para levar para outros bares, como eu mesma fazia. Eu não era um anjo. Pegava minhas drogas no Stonewall e as levava para o Washington Square Bar, na 3ª Rua com a Broadway, que era o bar das drags queens de terceira classe. Mesmo naquela época, tínhamos clubes separados. Havia os bares gays brancos e depois havia os poucos bares de terceira classe e os bares de drags queens.


Na noite de Stonewall, aconteceu que era a semana em que Judy Garland havia cometido suicídio. Algumas pessoas dizem que os protestos começaram devido à morte dela. Isso é um mito. Estávamos todos envolvidos em diferentes lutas, inclusive eu e muitas outras pessoas trans. Mas, nessas lutas — no movimento dos direitos civis, no movimento contra a guerra, no movimento das mulheres — ainda éramos párias. A única razão pela qual nos toleravam em alguns desses movimentos era porque éramos destemidas, estávamos na linha de frente. Não aceitávamos merda de ninguém. Não tínhamos nada a perder. Vocês já tinham direitos. Nós não tínhamos nada a perder. Serei a primeira a pisar nos calos de qualquer organização, de qualquer político, se for preciso, para garantir os direitos da minha comunidade.


Voltando à história: estávamos todas no bar, nos divertindo. As luzes piscaram; sabíamos o que estava por vir: era uma batida policial. Era a segunda vez naquela semana que o bar era invadido. A prática comum dizia que os policiais do 6º Distrito viriam a cada bar gay para recolher seu pagamento. A rotina era: “Bichas para cá, sapatonas para lá, aberrações para o outro lado”, referindo-se ao meu lado da comunidade. Se você não estivesse vestindo pelo menos três peças de roupa masculina, iria para a cadeia. Assim como uma sapatão teria que estar vestindo três peças de roupa feminina, ou seria presa. A noite seguia. Eles conferiam sua identidade, mas, naquela época, dava para enganar. Falsificar documentos era fácil, porque eu nem tinha 18 anos ainda; ia fazer 18. Fomos conduzidas para fora do bar. A rotina era que os policiais pegavam o pagamento, confiscavam o álcool, e, se você fosse bartender, tinha que correr para pegar o dinheiro assim que as luzes acendessem, porque nunca mais veria esse dinheiro. Trancavam a porta com um cadeado. O que fazíamos naquela época? Íamos a uma cafeteria ou qualquer outro lugar do bairro por quinze minutos. Voltávamos e a máfia já estava lá, cortando o cadeado, trazendo mais bebidas e reabrindo o bar.


Naquela noite, no entanto, estava abafado; todo mundo estava irritado; muitas de nós estávamos envolvidas em diferentes lutas. E, em vez de dispersarmos, atravessamos a rua. Parte da história esquece que, enquanto os policiais estavam dentro do bar, o confronto começou do lado de fora, quando começamos a jogar moedas neles. Começamos com centavos, depois níqueis, depois quartos de dólar e dimes. “Aqui está seu pagamento, seus porcos! Seus malditos porcos! Saiam das nossas caras.” Quem começou isso foram as “street queens” daquela época, da qual eu fazia parte, junto com Marsha P. Johnson e muitas outras que não estão mais aqui. Eu tenho sorte de fazer 50 anos em julho… mas continuo aqui e ainda serei amaldiçoada se não fizer 100. 


Uma coisa levou a outra. O confronto ficou tão intenso que o inspetor Pine, que comandava a batida, e seus homens tiveram que se barricar dentro do nosso bar, porque não conseguiam sair. As pessoas que haviam sido presas tiveram que ser levadas para dentro do bar com eles, porque não havia reforços policiais para ajudá-los. Mas, até hoje, não sabemos quem cortou as linhas telefônicas! Eles não conseguiram chamar o 6º Distrito. O inspetor Pine não era bem-vindo ali, porque tinha sido designado para acabar com a corrupção. Mas quem sabe se não foi um dos próprios policiais que cortou as linhas, alguém que também estava recebendo propina?


Os policiais e os presos estavam barricados dentro do bar, junto com um repórter do Village Voice, que relatou no jornal que lhe entregaram uma arma. Os policiais estavam tão assustados conosco naquela noite que, se tivéssemos arrombado a porta do bar, teriam atirado. Eles receberam ordens para atirar se a porta fosse arrombada. Alguém arrancou um parquímetro do chão. Ele estava solto; não sei como, mas estava. E começaram a usá-lo como aríete contra a porta.


Muitas pessoas me perguntam: “Foi um motim planejado?” Porque, do nada, surgiram coquetéis molotov. Alguns historiadores me dão o crédito de ter jogado o primeiro, mas gosto de corrigir isso: joguei o segundo, não o primeiro. E eu nem sabia o que era um coquetel molotov. Fiquei segurando aquilo, aceso, e pensei: “O que diabos faço com isso?” Alguém gritou: “Joga antes que exploda!” E eu joguei.


A revolta saiu do controle. Quando a notícia se espalhou, mais gente veio dos clubes. Mas devemos lembrar que não foi só a comunidade gay e as street queens que aumentaram o tumulto; muitos homens e mulheres heterossexuais do movimento radical que moravam no Village e conheciam nossa luta também ajudaram. A multidão cresceu. Foi uma longa noite de distúrbios. Lembro de gritar pelas ruas: “A revolução chegou!” Carros foram virados, vitrines quebradas, incêndios iniciados. Sangue foi derramado. Quando os reforços chegaram, 45 minutos depois, tínhamos uma fila de street queens dançando e cantando: "Nós somos as garotas de Stonewall, usamos nosso cabelo em cachos, usamos nossos jeans curtos acima dos joelhos afeminados, mostramos nossos pelos pubianos".


“We are the Stonewall girls

We wear our hair in curls

We don’t wear underwear

We show our pubic hair We pick up lots of tricks

That’s how we get our kicks

We wear our dungarees Above our nelly knees."


A polícia tática veio e bateu em todo mundo. Mas o que me impressionou naquela noite foi que, quanto mais apanhávamos, mais voltávamos. Estávamos determinadas a nos tornar uma comunidade livre e libertada. E conseguimos isso. Na verdade, vou corrigir o “nós”: vocês conquistaram sua liberdade naquela noite. Eu? Eu continuo sem nada, assim como naquela época. Mas ainda luto. Continuo lutando. E lutarei até o dia da minha morte para que minha comunidade conquiste os direitos que são justamente nossos.


Estou cansada de ver minhas crianças — e quando digo isso, incluo todas vocês nesta sala, todas são minhas crianças. Estou cansada de ver jovens trans sem-teto, crianças jovens e gays sem ter onde morar. Estou cansada de ver o desinteresse desta comunidade rica. Sim, esta é uma comunidade muito rica. Se temos dinheiro para reformar um prédio gastando milhões e milhões de dólares, comprar outro do outro lado da rua, e ainda assim não nos preocuparmos com as crianças sem-teto da nossa própria comunidade, então algo está muito errado. E eu sei disso por experiência própria. Porque toda vez que preciso de autorização para entrar neste prédio, é porque vi muitas dessas crianças antes da reforma, dormindo nos degraus daquela igreja ali na rua. E o que eu fiz? Entrei lá com raiva, fiz um escândalo. Sim, talvez eu tenha tentado destruir a recepção, mas não ataquei ninguém. E o que esse centro comunitário fez comigo? Como forma de agradecimento por tudo que fiz por essa maldita comunidade? Me prenderam e me jogaram em Bellevue! E agora esperam que eu abaixe a cabeça e beije o chão que pisam? Não. Eu não beijo a bunda de ninguém. Nunca fiz isso. E se cheguei até aqui, foi porque nunca me rebaixei para ninguém. Naquela noite, me lembro de cantar "We Shall Overcome", tantas e tantas vezes, em várias manifestações, nos degraus de Albany, na nossa primeira marcha, quando falei para a multidão lá. Me lembro de cantar, mas a verdade é que eu não superei merda nenhuma.


Eu nem estou no fundo do ônibus. Minha comunidade está sendo arrastada por uma corda amarrada no para-choque desse maldito ônibus, que continua seguindo sem nós. Libertação gay, mas nada para as pessoas trans! Sim, eu tenho muita raiva. Mas eu tenho o direito de sentir essa raiva. Lutei demais por esta comunidade para aceitar o desrespeito que sofri e que minha comunidade sofreu nos últimos 32 anos. E só para deixar registrado: vocês sabiam que levou 17 anos para a Lei dos Direitos Gays ser aprovada aqui em Nova York? Mas vamos voltar ao começo. Quando começamos a coletar assinaturas para essa lei, só uma pessoa foi presa e essa pessoa fui eu.


Porque eu tive a coragem de ir até a Times Square, na Rua 42, e pedir que as pessoas assinassem aquela petição. E a única razão pela qual fiz isso foi porque, naquela época, o projeto de lei incluía a comunidade trans. Dois ou três anos depois, quando o projeto começou a ser discutido e enviado para a Câmara Municipal, nós íamos e voltávamos de lá, tentando garantir que fosse aprovado. Mas então fizeram um acordo secreto, sem convidar a mim ou outras ativistas trans para a reunião com os políticos. O acordo foi simples: "Se vocês tirarem as pessoas trans do projeto, nós aprovamos a lei." E o que os homens gays brancos e conservadores fizeram? Venderam a comunidade que libertou eles. E mesmo assim, ainda levaram 17 anos para aprovar essa maldita lei! E eu odeio dizer isso, mas fiquei feliz toda vez que o projeto falhava. Porque, depois do que fizeram comigo e com a minha comunidade, eu não achava justo que eles conseguissem esses direitos às custas do nosso sangue e do nosso suor. 


Só Stonewall foi uma grande, grande base. Foi o início da luta moderna pela libertação. Antes disso, tínhamos grupos como as Daughters of Bilitis e a Mattachine Society. Mas esses grupos exigiam que você fosse um "homossexual normal". Tinha que usar terno e gravata. Em uma das primeiras manifestações que fizeram, lésbicas que nunca tinham usado vestido na vida foram obrigadas a colocar vestido e salto alto, só para “mostrar ao mundo” que eram normais. Normais? Tudo bem. Uma das minhas melhores amigas hoje, que me empregou por sete anos antes de eu mudar de trabalho, é Randy Wicker. Randy foi um ativista gay muito conhecido em 1963. Antes mesmo de existir um movimento organizado, ele foi o primeiro homem gay a aparecer num programa de TV e dizer ao mundo que era um homossexual normal. Dou crédito a ele por isso. Ele fez muitas coisas importantes. Mas, em 1969, e por muitos anos depois, ele atacou a comunidade trans. Demorou anos para ele perceber que não somos diferentes de ninguém. Que sangramos, choramos e sofremos como qualquer outra pessoa.


E isso vem acontecendo há muito tempo. Mesmo antes da libertação gay, já era assim: "As drags estão lá, nós estamos aqui", mas em 1969, o mundo desabou. E no quarto aniversário da Revolta de Stonewall, a comunidade trans foi silenciada. E sabem por quê? Por causa de uma lésbica radical chamada Jean O’Leary. Ela dizia que a presença de pessoas trans e drag queens era ofensiva para as mulheres, porque gostávamos de usar maquiagem e minissaias. Me poupe! Isso vinha junto com o tipo de trabalho que éramos forçadas a fazer para sobreviver naquela época! Porque me deixem deixar uma coisa bem clara: ninguém quer estar na rua fazendo programa. Ninguém quer estar ali, se arriscando a ser espancada ou morta. Mas era a única opção que tínhamos para sobreviver. Porque as leis não nos davam o direito de conseguir um emprego onde pudéssemos ser quem realmente somos. Eu não queria trabalhar vestida de homem, porque eu nunca fui um homem. Eu sou assim desde antes de sair de casa. E saí de casa com dez anos de idade


De qualquer forma, Jean O’Leary começou a grande confusão naquele evento. Foi no ano em que Bette Midler cantou para nós. Eu deveria ser uma das palestrantes principais naquele dia. Mas, como algumas mulheres achavam que nós éramos ofensivas, as drag queens Tiffany e Billy foram proibidas de se apresentar. Eu tive que lutar para subir naquele palco. E sabe quem tentou me impedir? As mesmas pessoas que eu chamava de companheiras na luta. Me espancaram ali, no meio do evento. E foi aí que tudo começou, a verdadeira tentativa de nos silenciar. Me bateram. Eu revidei. E eu falei. Eu fiz a minha voz ser ouvida.


Outra pessoa que falou naquele dia foi Lee Brewster (ela faleceu há um ano). Lee era uma figura muito importante para a comunidade trans e para a comunidade crossdresser. Ela subiu no palco, jogou sua tiara para o público e gritou: "Que se dane a libertação gay!" Mas o que ninguém lembra é que Lee Brewster bancou a maior parte do dinheiro para a primeira Marcha do Orgulho Gay, em 1970. Naquele ano, éramos duzentas ou trezentas pessoas, saindo do Village e subindo a 6ª Avenida, ocupando apenas duas pequenas faixas de tráfego. E, mais uma vez, quem estava visível? Nós. A comunidade trans. E mesmo assim, olhem o que fazem conosco hoje. Nos empurram cada vez mais para o final da marcha. Eu mesma nunca tive o prazer de marchar com minha comunidade. Porque faço parte do grupo Veteranos de Stonewall, e marcho na frente. Mas até que minha comunidade receba o respeito de poder marchar na frente, eu vou marchar com elas. Porque é lá que eu pertenço. E sim, eu uso minha grande faixa que diz "Stonewall". E as pessoas perguntam: Por quê? E eu conto a verdade. Porque é aqui que a Heritage of Pride quer nos manter.


Eu não faço rodeios. Eu não tenho medo de dizer nomes. Se alguém fode com a comunidade trans, o grupo Street Transgender Action Revolutionaries vai bater na sua porta. Foi exatamente o que fizemos com a HRC, quando eles se recusaram a apoiar as manifestações por Amanda Milan. Depois que fizemos pressão, eles tentaram nos dar um pedaço de papel inútil. E nós recusamos. Como vocês ousam questionar a validade de um grupo trans pedindo apoio, depois que uma mulher trans foi assassinada? Não. A comunidade trans tem permitido que gays e lésbicas falem por nós por tempo demais. Mas os tempos estão mudando. Nosso exército está crescendo e ficando mais forte. E quando batermos às portas — daqui até Albany e Washington — eles vão saber que não se brinca com a comunidade trans.


A normalização, a ideia de ser normal. Eu entendo o quanto todo mundo quer se encaixar nessa comunidade gay e lésbica tradicional. Sabe, antigamente era maravilhoso ser avant-garde, ser diferente do resto do mundo. Mas agora vejo que estamos regredindo para um tipo de armário supostamente libertado, porque nós — não nós, vocês, dessa comunidade tradicional — querem se casar, querem esse status. Tudo bem, isso é ótimo. Mas vocês estão esquecendo suas raízes, esquecendo suas identidades individuais. Quero dizer, vocês nunca serão como eles. Sim, podemos adotar crianças, tudo bem, isso é maravilhoso. Eu adoraria ter filhos. Eu adoraria casar com minha companheira ali. Mas, por razões políticas, eu não farei isso, porque não acho que preciso me encaixar nesse armário de normalidade da sociedade heterossexual, para onde o movimento gay tradicional está sempre correndo.


E é por isso que até hoje a comunidade trans continua sendo jogada para escanteio. É por isso que sempre nos dizem: “Deixa a gente conseguir os nossos direitos primeiro, depois ajudamos vocês.” Se eu ouvir isso mais uma vez, acho que pulo do Empire State. Mas tenho certeza de que muita gente adoraria isso, especialmente os mais velhos, porque eu já fui bem pior. Eu costumava ser uma vadia nas ruas.


Mas esses são dias para refletir. Este mês é muito importante. Eu posso ter muita raiva, mas tudo isso significa muito para mim. Porque, depois de estar no World Pride no ano passado, na Itália, e ver 500 mil homens gays, mulheres e pessoas trans lindas e libertadas, e ser chamada de mãe do movimento trans e da libertação gay mundial, isso me encheu de orgulho. Me encheu de orgulho ver minhas crianças comemorando. Mas só espero que — e ouvi muitas coisas positivas aqui hoje, como o reconhecimento de que a comunidade trans foi a principal responsável pela libertação do movimento — vocês lembrem disso não só quando estamos presentes, mas também quando enviamos um chamado para ação. Mostrem apoio quando pedimos ajuda para as coisas que planejamos fazer.


Foi muito doloroso ver que, no dia 4 de maio de 2001, quando fizemos história ao apresentar um projeto de lei de direitos civis no Conselho Municipal, quase ninguém apareceu. Finalmente conseguimos apresentar nosso projeto! Esperamos tanto tempo por isso! Mas onde estavam minhas irmãs e irmãos? Onde estavam minhas crianças, aquelas que eu libertei? Muito poucos aliados apareceram. Mas o que me encheu de orgulho foi ver a comunidade trans comparecendo em peso. Até mesmo as garotas que trabalham nas ruas tiveram coragem de ir a um evento público e participar de algo que nunca considerariam fazer: entrar na Prefeitura, mesmo morrendo de medo da polícia. Mas elas estavam lá. E isso prova algo para o resto da comunidade: quando pedimos apoio, queremos apoio. Mas, no fim das contas, se ninguém mais nos ajudar, nós mesmas conquistaremos o que precisamos.

Mas precisamos lembrar: as ações por Amanda Milan estão chegando. Espero ver muitas de vocês lá. Mas lembrem-se de uma coisa: quando todas saíram às ruas em massa por Matthew Shepard, inclusive eu, e muitas de nós fomos presas, eu só consegui ver uns cinco minutos da coisa toda. Porque, sendo quem sou, sempre na linha de frente, assim que me sentei na rua, um dos policiais de patente, que me conhecia há anos, disse: “Assim que a ordem for dada, peguem aquela vadia ali, tirem ela da rua e joguem no camburão.” E foi exatamente o que aconteceu. O meu ponto é que por um garoto branco, gay, de classe média, afeminado parecia que todo mundo foram às ruas por Matthew Shepard.! Agora quando Amanda Milan foi assassinada no ano passado, cinco dias antes do Orgulho esperamos um mês inteiro para realizar uma vigília para ela. E apenas trezentas pessoas apareceram. Que tipo de comunidade é essa? Será que a comunidade não tem sentimentos? Nós fazemos parte da comunidade gay e lésbica! Isso realmente me machucou, ver que só trezentas pessoas apareceram. E nem era como se fosse ser uma vigília longa! Caminhamos da Rua 36 até a 42. 


Então, quando chamamos vocês, não queremos só que patrocinem nossas ações, queremos ver corpos presentes. Mas, como eu disse, somos capazes de fazer isso sozinhas. Porque, depois de 32 anos, aprendemos que não podemos depender de ninguém além da nossa própria comunidade trans para seguir em frente. Mas lembrem-se disso enquanto passam o mês inteiro celebrando o quão livres são. E eu sinto muito por quem não pode ler a história de Stonewall ao redor do mundo. E, de novo, a culpa é das editoras e dessas empresas. Eu tentei pressionar os editores do livro Stonewall, de Martin Duberman, a publicá-lo em espanhol. Mas eles disseram que o livro não venderia em países de Terceiro Mundo, nos países latinos.


Isso é um monte de merda! Porque a única maneira de aprender a história, especialmente se você está longe e apenas começando a se entender, é poder pegar um livro e ler sobre Stonewall e sobre como você foi libertada. Sei que muitos dos nossos países não são tão livres quanto os Estados Unidos quando se trata de gays, especialmente os países latino-americanos. Porque, mais uma vez, temos que lembrar que nesses lugares, os homens têm que cumprir esse papel de macho tendo que fazer muitos filhos, condicionados a pensar sua existência em torno de reprodução! Mas é uma vergonha que tenham demorado 32 anos para finalmente perceberem o quanto demos a vocês, para perceberem o papel que a comunidade trans teve nesse movimento.


E, com isso, espero ver vocês quando eu enviar os e-mails, e espero que passem a mensagem adiante. Espero ver muitas de vocês nas ações por Amanda Milan. E, mais uma vez, desejo a todas um feliz Dia do Orgulho Gay.


Mas também pensem em nós.


*Tradução feita por @moiz4dj . Estudante de Letras na USP e pesquisador.

 
 
 
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