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Para quando a África?

Foto do escritor: Márcio PauloMárcio Paulo

Por Márcio Paulo*


Esse texto tem por fundamento, fechar o final do ano africano e lançar luz para que possamos, de forma radical e corajosa, analisar e fazer um panorama geral do que foi o ano para o continente africano.

 

Desde o balanço geral das eleições presidenciais, rupturas do Estado, negociações, poder de barganha, o esquecimento das grandes corporações e dos países mais capitalistas em decisões até monocráticas sobre o futuro não só da sua nação, mas de um planeta todo que agoniza, mas não morre, ainda não.

 

De Angola à Zâmbia

 

As expectativas para o novo ano para os países africanos sempre têm sido baseadas em cada vez mais conseguir apoios comerciais fortes para que o desenvolvimento local e externo não seja prejudicado, pois saímos de um ano ainda de recuperação econômica e moral de vários países.

 

Claramente vemos que existe um mote a ser atacado por todos os países que é o desenvolvimento das suas tecnologias e o interesse em aliviar a pressão sobre os problemas ambientais que assolam o continente. O continente africano é o que menos polui em números estatísticos e gerais, porém é o que mais sofre com as mudanças climáticas, não apenas as mudanças do tempo, mas também a novas doenças que se desenvolvem e proliferam nos rincões mais distantes de seu espaço continental.

 

Joseph Ki Zerbo, um importante pensador nascido em Burkina Faso, sempre questionou em qual momento a África se voltaria para si mesma, para buscar as suas soluções; bom, esse momento ainda não chegou de fato, mas podemos enxergar algumas luzes com países se tornando mais autônomos e indo contra a mão pesada de Estados não africanos, como por exemplo a retirada das tropas francesas de Senegal, que foi uma das últimas ações do governo senegalês de Dioumaye Fayé, apesar de não existir uma data concreta para tal retirada, já é demonstrado um descontentamento da população em geral que agora reflete nos políticos que começam a agir.

 

Não existe unanimidade dentro do continente africano em nenhum ponto, estamos falando de um espaço geográfico que possui os mais diversos climas, as mais diversas línguas e formas de compreender o tempo, países que estão no cinturão do deserto do Sahel, tem combatido grupos de rebeldes que o tempo todo ameaçam uma ordem social dentro de países como Burkina Faso, Chade, Mali, que hoje tem seus governos formados por militares que tomaram o poder em momentos de instabilidade de governos civis.

 

Logicamente que pensar em governos militares sempre nos coloca na posição de fazer uma análise de separar os bons e os ruins, mas peço que faça a análise olhando para a África com o pensamento dos africanos e não de outras nacionalidades, pois é muito fácil confundir e esperar ações “ocidentalizadas” de um povo que não tem a menor pretensão de ser parecido com alguém que não seja eles mesmos.

 

Os estudos que faço sobre o continente envolvem desde a sua música, a sua forma de pensar, até suas necessidades mais básicas que não são atendidas, estamos falando de um continente todo que foi praticamente esquecido no meio de uma pandemia global: os países africanos foram os últimos a ter acesso as vacinas, muito porque o investimento africano não correspondia a expectativa daqueles que lucram com esses momentos históricos.

 

A África sempre esteve em busca da sua autonomia e resiliência e chegamos em um momento que Ki Zerbo esperou a vida toda, onde as notícias, as falas e tudo o que repercute na mídia são divulgados por eles mesmos, a sua maneira, seja certa ou errada, concordando ou discordando, a internet no continente tem papel fundamental de auxiliar e de propagar as boas e más notícias que vem do continente. É necessário mais do que nunca verificar as notícias e tudo mais o que repercute nas mídias sociais, mas estamos entrando em um momento histórico que é possível analisar e compreender o continente pela sua própria visão.

 

Falar de todos os países é uma tarefa árdua e complexa, pois cada um tem sua peculiaridade e seu momento histórico diferente, é necessário estar atento para todas as notícias possíveis que vem do continente como um todo.

 

Cada vez mais enxergo que as possibilidades são palpáveis, países de todo um continente se fortalecem e aprendem que todo momento é o de decidir o seu próprio futuro, não é necessário esperar que países fora do seu continente façam, existe a criação de uma nova moeda em acordo com os países da região da Sahel, para sair da dependência de uma moeda estrangeira, países como Burkina Faso que tem seu principal desejo a sua independência não só do colonialismo francês, mas de todo um aspecto continental.

 

Dentro de uma perspectiva geral, a África tem um ano longo a percorrer com as suas próprias pernas, os seus apoios internacionais ainda são variantes, depende muito da região e de como vai ser feito os acordos tanto da união africana, Ecowas, e outros institutos que tentam unir a diversidade dos povos por vezes distantes até mesmo na linguagem e no modo de viver.

 

Mais uma vez nosso papel é observar e compreender até onde vai os movimentos da geopolítica africana, porém com o olhar do continente africano e não um olhar viciado em problemáticas das quais a África não faz parte ou não foi consultada.

 

No mais, um bom ano novo, espero que possamos caminhar mais uma vez lado a lado em busca da paz e da honestidade nas negociações com os grandes players.


 

*Márcio Paulo é comunicador e pesquisador, membro da Clio Operária e do Ponta de Lança podcast, pesquisador sobre música e cultura no continente africano e sua diáspora.


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